domingo, 16 de abril de 2017

Primeiro o YouTube, agora as demais redes sociais

Logo após o YouTube ser "atacado" pelo Washington Post, a plataforma do neoliberalismo brasileiro, Estadão, publica hoje um editorial curioso. No artigo "Desafios da notícia na internet" (página 3), o texto começa dizendo:

"Em tempos de intenso debate sobre as “notícias falsas” (fake news) que circulam na internet – discutem-se, por exemplo, seus efeitos políticos ou a responsabilidade das redes sociais por sua difusão –, estudo do Pew Research Center, uma das instituições de maior prestígio nos Estados Unidos, revela dados interessantes sobre as tendências de comportamento no consumo das notícias digitais."

Detalhes: "discutem-se [...] a responsabilidade das redes sociais por sua difusão" e "[...] uma das instituições de maior prestígio dos Estados Unidos". O primeiro trecho revela que a grande mídia está de olho na "responsabilidade" das redes e talvez estejam maquinando alguma estratégia para filtrar as “notícias [consideradas por eles] falsas”. O segundo destaque reforça que a pesquisa usada para o editorial é 100% confiável e que o leitor pode assumir todas as informações ali elencadas como a verdade proveniente de uma empresa com "prestígio" (portanto, que nunca dará uma informação falsa).

A pesquisa, segundo o editorial, é interessante e traz resultados relevantes sobre como as pessoas compartilham notícias e como elas se lembram (ou não) das fontes. Contudo, quem encomendou a pesquisa? Quais foram as pessoas que participaram do estudo? Qual o interesse que há por detrás de um estudo como este? Havia uma hipótese a ser comprovada pelo estudo? Se sim, qual era? Enfim, a pergunta certa é: qual o interesse por detrás disso tudo? Estudos e pesquisas estão sempre suscetíveis tanto à ideologia do pesquisador quanto às intenções que balizam as interpretações. Informar que a empresa tem “prestígio” é dar uma garantia ao leitor e dizer que ele não precisa se preocupar com nenhuma dessas questões elencadas acima. “Só acredite nos resultados, caro leitor!”

Além disso tudo, o texto questiona as notícias falsas, assunto que está em pauta hoje em dia: “Ponto importante da pesquisa foi detectar se os consumidores de notícias digitais tinham consciência da fonte de informação.” Uma questão importante aqui não é apenas considerar a “fonte de informação”, mas sim a intenção da notícia, a ideologia que está implícita no texto. Saber a fonte da informação é crucial para identificar se aquele texto tem ou não “credibilidade”, se foi composto por um profissional que sabe o que está fazendo, etc. Contudo, de que adiantaria, por exemplo, ler e compartilhar a notícia de um jornal que manipula tanto quanto uma notícia falsa? De que adianta compartilhar a notícia de um grande jornal se não fornece argumentos isentos e plurais para que o leitor possa debater em suas redes sociais sobre o que pensam do assunto ao invés de apenas reproduzir o discurso que os veículos de comunicação querem que esse indivíduo reproduza e internalize?

É relevante sim debater a questão das notícias falsas, contudo, quando vamos debater a questão das notícias desses grandes veículos de comunicação? Quando vamos começar a questionar o porquê de uma notícia trazer apenas fatos que corroborem com o perfil positivo ou negativo (já que não existe o meio termo) que o texto quis traçar de um economista liberal ou de um político da oposição? Quando vamos olhar para um jornal e questionar quais são as intenções por detrás das notícias que ele publica? Quantos rabos estão presos e quantos “dogmas” do jornalismo foram negados pelo simples gosto do poder de informar/manipular?

A impressão que esse texto permite é de que o jornal está de olho nas redes sociais. Este foco, contudo, não parece ser democratizar a informação, mas sim controlar o que pode estar se desviando da ideologia que ele prega em suas páginas diárias.


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